terça-feira, 11 de março de 2008

*RAÍZES DE GRAMA*:O DECRESCIMENTO COMO CONDIÇÃO DE UMA SOCIEDADE CONVIVIAL

*RAÍZES DE GRAMA*, REDES EM REDE.
Solicitamos retransmissão a bem da verdade.

O DECRESCIMENTO COMO CONDIÇÃO DE UMA SOCIEDADE CONVIVIAL

Por Serge Latouche, objetor de crescimento (1)

"Pois será uma satisfação perfeitamente positiva comer alimentos sadios, ter-se menos barulho, viver num meio ambiente equilibrado, não mais sofrer restrições de circulação, etc."
Jacques Ellul (2)

"A casa está pegando fogo...", não sou eu que o digo, mas o Presidente Jacques Chirac em Johannesburgo. Enquanto , em 1954, Jacques Ellul figurava como um mensageiro do apocalipse, todos nós sabemos hoje que estamos indo direto de encontro ao muro. A lista das catástrofes ecológicas atuais e anunciadas está pronta. Sabemos muito bem disso, mas não o percebemos como real. O clash é inimaginável antes de ocorrer. Também sabemos muito bem o que seria preciso fazer: entrar no decrescimento, mas nada fazemos. "Olhamos para outro lado...", enquanto a casa termina de queimar. Devemos dizer em nossa defesa que os "responsáveis" , tanto políticos quanto econômicos, nos convidam a fazê-lo (Chirac ou Movimento das Empresas Francesas - MEDEF). E enquanto isso, aqueles bombeiros-piromaníacos põem mais lenha/petróleo na fogueira, gritando muito alto que é a única maneira de apagá-lo. E assim continuamos insistindo sempre na mesma coisa.

O patrão da nossa aldeia global, o chefe dos bombeiros-piromaníacos, George W. Bush, declarou em 14 de fevereiro de 2002, em Silver Spring , diante da administração da meteorologia, que, "por ser a chave do progresso ambiental, por fornecer os recursos que permitem investir nas tecnologias limpas, o crescimento é a solução e não o problema" (3). Esta posição "pró-crescimento" é, no fundo, amplamente compartilhada pela esquerda, inclusive pelos "alterglobalistas" , que consideram, além disso, que o crescimento é também a solução para o problema social na medida em que cria empregos e favorece uma distribuição mais eqüitativa.

O anúncio triunfalista da retomada americana feito pelos jornais, os planos (franco-alemã o ou europeu de recuperação) repousam nas grandes obras (infra-estrutura de transportes) , que não podem senão agravar a situação (climática principalmente) . Diante disso, espanta-nos o silêncio ensurdecedor dos socialistas, dos comunistas, dos verdes, da extrema esquerda... Única voz discordante é a de Jean-Marie Harribey, Alain Lipietz e dos líderes da Attac, que propõem uma "desaceleração do crescimento" . Proposta que parte de uma boa intenção, mas infeliz por nos privar tanto dos benefícios do crescimento quanto das vantagens do decrescimento. .. Como observa Hervé Kempf: "Será que esta esquerda pode aceitar proclamar a necessidade de reduzir o consumo material, um imperativo que permanece no centro da abordagem ecológica?" (4)

Após algumas décadas de desperdício frenético, parece que entramos na zona das tempestades, no sentido próprio e no sentido figurado do termo... A desordem climática vem acompanhada por guerras pelo petróleo que serão seguidas não somente por guerras pela água (5), mas também por possíveis pandemias e catástrofes biogenéticas previsíveis. Parece mesmo que estamos vivendo a sexta extinção das espécies, mas o que a torna diferente das anteriores é o fato de que o homem é diretamente responsável por ela e poderia muito bem ser sua vítima...

Nestas condições, a sociedade de crescimento não é sustentável nem desejável. É portanto urgente pensar uma sociedade de "decrescimento" , se possível, serena e convivial.

1 A sociedade de crescimento não é sustentável nem desejável

Para compreender o que poderia ser uma sociedade de decrescimento, convém, antes de tudo, definir a sociedade de crescimento. "A idéia moderna de crescimento, segundo Henry Teune, foi formulada há cerca de quatro séculos, na Europa, quando a economia e a sociedade começaram a separar-se" (6). Porém, acrescenta justamente Takis Fotopoulos, "a própria economia de crescimento (definida como o sistema de organização econômica orientado, seja de forma objetiva, seja de forma deliberada, para a maximização do crescimento econômico) surgiu bem depois do nascimento da economia de mercado do início do século XIX e só se desenvolveu após a Segunda Guerra Mundial" (7), ou seja, no momento em que o Ocidente (por intermédio do Presidente Truman...) lançava a palavra de ordem e o empreendimento do desenvolvimento.

A sociedade de crescimento pode, pois, ser definida como uma sociedade dominada por uma economia de crescimento e que tende a deixar-se absorver por esta. O crescimento pelo crescimento torna-se, assim, o objetivo primordial da vida, se não o único. Tal sociedade não é sustentável por que vai de encontro aos limites da biosfera. Se tomarmos como indício do "peso" ambiental de nosso modo de vida "a pegada" (8) ecológica deste na superfície terrestre ou no espaço bioprodutivo necessário, obtemos resultados insustentáveis tanto do ponto de vista da eqüidade dos direitos de exploração da natureza quanto do ponto de vista da capacidade de regeneração da biosfera (9). Desde já,o planeta não é suficiente. Ora, precisar-se- ia de três a seis planetas para generalizar o modo de vida ocidental e mais de trinta, no horizonte de 2050, se continuarmos com um índice de crescimento de 2%, e considerando- se o crescimento previsível da população!

Para conciliar os dois imperativos contraditórios do crescimento e do respeito ao meio ambiente e refutar a necessidade de um decrescimento, os especialistas e os industriais elaboraram uma argumentação em quatro pontos:

1) a ecoeficiência;
2) o imaterial;
3) os progressos futuros da ciência;
4) a substitutibilidade dos fatores.

Eles pensam sobretudo terem encontrado a poção mágica na ecoeficiência, peça central e, na verdade, única base séria do "desenvolvimento sustentável". Trata-se de reduzir progressivamente o impacto ecológico e a intensidade da coleta dos recursos naturais para alcançar um nível com patível com a capacidade determinada de carga do planeta (10).

É incontestável o fato de que a eficiência ecológica tenha aumentado de maneira notável, mas, ao mesmo tempo, a perpetuação do crescimento desenfreado provoca uma degradação global. As reduções de impactos e de poluição por unidade são sistematicamente aniquiladas pela multiplicação do número de unidades vendidas e consumidas (fenômeno que se denominou efeito rebote).
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